domingo, 27 de abril de 2008

Saudades...

Sabe aquelas horas que não se sabe como um pensamento surgiu na cabeça da gente, o que foi que o motivou, de onde ele chegou? Pois é, ultimamente estou tendo algumas experiências desse tipo e, refletindo bastante sobre tais pensamentos, estou chegando a conclusão de que é SAUDADE!

Na verdade não são bem pensamentos, mas lembranças, mas elas são tão fortes que muitas vezes traz junto outras sensações. Explico melhor: outro dia estava aqui em casa, tínhamos acabado de fazer feira e fui preparar um cafezinho pra mim e pra Daniel. Abri o pacote e qual foi minha surpresa, de experienciar uma sensação de que estava na Várzea, na minha casa, fazendo nosso café. Foi uma sensação incrivelmente forte. E lembrei-me que o tal café que estava abrindo aqui era brasilieiro e o seu cheiro me reportou para minha terra, me teletransportou para a minha casa na Várzea e por frações de segundo me vi lá.

A mais nova que tive foi água de côco. Ai ai ai, estava aqui, olhando o povo holandês lagartixar no solzinho de 15 graus e, imediatamente, me vi em Porto de Galinhas, caminhando pela praia, num sol de 35 graus, tomando uma água de côco geladinha. Nossa, fiquei salivando... Kkkkkk!!

Pois é, morar fora por muito tempo tem dessas coisas, às vezes faz a gente se enraizar ainda mais em determinadas lembranças, em coisas que faziam parte do nosso mais comum cotidiano. É a saudade...

sábado, 12 de abril de 2008

A modernidade e a Caretice na Holanda.

Depois de quase um ano morando aqui na Holanda, começo a perceber algumas idiossincrasias em relação à cultura. Em geral, as pessoas acham que os Países Baixos são um lugar super aberto, democrático - "pra frentex". Levando em consideração a legislação do país, acho que poderíamos dizer isso mesmo, haja vista a legalização de dogras leves, da prostituição (ainda tenho minhas dúvidas nesse ponto), do aborto, da eutanásia, do casamento homossexual, sexo no parque (saiu na globo, eu sei, mas perguntei a alguns holandeses e eles ainda não estão sabendo disso!). No entanto, acho que isso é mais um avanço da lei do que dos hábitos cotidianos, propriamente ditos.

Outro dia estava com Daniel numa loja, esperando dois amigos e, como casal apaixonados que somos, enquanto esperávamos, trocamos uns beijinhos. Beijinhos mesmo, nada de mais, só que, para a minha surpresa, quando levantei a vista, tinha uma senhora, nos olhando com a maior cara de repressão, achando aquilo um absurdo e talvez até um atentado ao pudor! É sério! É raro vermos casais na rua, trocando carinhos e afagos. E aí eu me pergunto: beijo na rua não pode, mas sexo no parque (desde que seja de noite e sem muito barulho) pode???

Visitei o bairro da luz vermelha. Talvez no início ele até tenha gozado de certo prestígio, mas hoje é um lugar decadente, feio. A holanda está tentando "revitalizar" o red light district, mas muito mais como uma atração turística - coisa pra gringo ver - do que algo para os holandeses, como estímulo para a prática. As drogas são permitidas, mas se você sai da linha em público, logo logo chega a polícia para lhe acalmar. Pode ficar doido em alguns parques, ou mesmo na sua casa, mas numa vizinhança familiar, não. Certas drogas são permitidas, mas o uso em vias públicas não.
Até hoje, nunca vi um casal homossexual de mãos dadas na rua. Conheço um brasileiro que é casado com um holandês e ele conta que sofre muito mais preconceito aqui nos Países Baixos, onde o casamento homossexual é permitido, do que no Brasil.

No caso que concerne especificamente à situação da mulher na sociedade holandesa, acredito que o aborto legalizado é, de fato, um ganho enorme. Só o fato de você poder ir numa clínica especializada, ser atendida de forma legal (no sentido da lei) acho realmente que isso é um avanço. Por outro lado, como "regra" geral, as mulheres holandesas que casam, deixam de trabalhar para se dedicar 100% à família e aos cuidados domésticos. E isso não é só quando os filhos são pequenos não. Elas deixam de trabalhar mesmo, viram donas de casa. Tanto é verdade que por exemplo, nas Universidades, a quantidade de mulheres na pós-graduação é muito pequena e, como tentativa de diminuir essa diferença, existe bolsa de incentivo para holandesas que quiserem continuar os estudos e as pesquisas acadêmicas. No entanto, quase não existe contingente aplicando para essas bolsas!
Não existe a alternativa do homem dividir as tarefas domésticas e os cuidados com o filho. Diferentemente, na Alemanha, pesquisas apontam que é melhor, (tanto no sentido de lucro, quanto no sentido familiar) que ambos os pais trabalhem meio expediente, para que eles possam se alternar nas tarefas domésticas, do que apenas um (no caso, a mulher) fique em casa o dia inteiro.

Então fico pensando que a lei é, realmente, muito desenvolvida no sentido dos direitos do cidadão, do respeito às diferenças. Mas existe uma diferença muito grande entre a lei e o comportamento do holandês médio. Talvez isso ainda seja uma dificuldade minha, afinal entender uma cultura é trabalho super difícil, que o diga os antropólogos, mas a impressão que me dá é que a lei não é um espelho da sociedade. Aqui o discurso da normalidade é muito praticado, tanto que existe uma expressão: o "doe normaal", traduzindo, faça, seja, haja de formal normal, igual aos outros. Não seja diferente!

Esses avanços na lei, na minha impressão, são muito mais para enquadrar numa normalidade aceitável esses padrões "desviantes", do que uma aceitação do diferente. Ou talvez, a lei seja o último resquício da geração dos anos 60, que tentou "mudar o mundo", pois vejo que os mais velhos são mais abertos (inclusive culturalmente) do que a juventude atual. Não é à toa que a extrema direita está crescendo aqui nos Países Baixos, com um discurso xenófobo e intolerante.

Não sei, mas tirando alguns lugares/não-lugares em Amsterdam, onde quase tudo é permitido, para mim os Países Baixos é um lugar super conservador. Não quero, com isso, afirmar que todos aqui são intolerantes ou caretas, e sim falar da quebra de alguns estereótipos que eu tinha antes de vir pra cá e que agora, vivendo de perto a cultura, vejo que não é assim. É como falei no começo do tópico, são as idiossincrasias daqui, mas qual a cultura que não tem???